Medida anunciada por Trump vai além da economia e acende alerta sobre violações institucionais no Brasil.
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Presidente dos EUA, Donald Trump | Foto: EFE |
Lauro Arttur
Por mais que se tente enquadrar o anúncio de Donald Trump como uma “tarifa de importação”, a verdade é mais incômoda: trata-se de uma sanção política e econômica contra o Estado brasileiro. A carta enviada ao presidente Lula com tom direto e grave expõe aquilo que parte da imprensa tenta ignorar: o crescente isolamento internacional do Brasil. E isso se deu não apenas por decisões econômicas questionáveis, mas, sobretudo, por seu flerte perigoso com o autoritarismo.
Trump foi claro: sua medida é uma reação ao que chamou de "caça às bruxas" contra Bolsonaro e seus aliados, às decisões judiciais secretas contra redes sociais americanas e à repressão à liberdade de expressão. Pode-se gostar ou não do presidente dos Estados Unidos, mas não dá para fingir que o alerta que ele traz é irrelevante. Há tempos, juristas, parlamentares e entidades internacionais vêm chamando atenção para os atropelos institucionais cometidos em nome de um suposto combate à desinformação ou à ameaça democrática.
A perseguição política a opositores, os inquéritos que se arrastam sem conclusão e as ordens judiciais sem transparência mostram que algo vai mal com o Estado de Direito no Brasil. Quando ministros do STF acumulam poder sobre investigações, controle de redes e censura de vozes dissonantes, acende-se um sinal vermelho. Trump apenas verbalizou — à sua maneira — o que muitos países já observam de forma discreta: o Brasil não é hoje, sob Lula e o Judiciário, um modelo de democracia confiável.
É claro que sanções econômicas são prejudiciais ao povo, e não se deve festejá-las. Mas também é ingenuidade achar que as relações internacionais se pautam apenas por contratos comerciais. Liberdade e direitos humanos são cláusulas essenciais em qualquer parceria séria. O Brasil, ao violar esses princípios de forma sistemática, passa recibo de um país onde as instituições falham em limitar o poder. E o preço, agora, começa a ser cobrado.
Se queremos evitar que o Brasil se torne uma nova Venezuela, país que eu tenho grande apreço, mas cuja repressão e o caos econômico caminham lado a lado, é preciso que o Congresso e a sociedade civil reajam. A cobrança por impeachment não é mais uma questão de disputa política, mas de sobrevivência institucional. Não é sobre Bolsonaro, nem sobre Lula. É sobre impedir que um país com enorme potencial se afunde por escolhas autoritárias disfarçadas de governabilidade.