As conversas revelam que o bloqueio da rede social foi planejado nos bastidores do STF e do TSE, tendo como referência a suspensão do Telegram, e contaram com o aval direto de Alexandre de Moraes.
Ministro Alexandre de Moraes | Foto: Gustavo Moreno/STF |
Lauro Arttur
Nesta terça-feira (26), a Revista Oeste divulgou mensagens reveladoras sobre os bastidores de uma operação para bloquear a rede social Gettr no Brasil. A operação foi articulada por auxiliares próximos ao ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
As mensagens mostram que, em 3 de outubro de 2022, dois dias após o primeiro turno das eleições, o juiz Airton Vieira, assessor de Moraes no STF, solicitou ao então chefe da Unidade Especial de Combate à Desinformação do TSE, Eduardo Tagliaferro, medidas para suspender, deliberadamente, a plataforma no Brasil.
O pedido surgiu de uma confusão. Vieira acreditou que uma publicação do jornalista Allan dos Santos no X havia sido feita na Gettr. Corrigido por Tagliaferro, o assessor insistiu na ideia de bloqueio do Gettr: "Então, veja, por favor, como bloquear o Gettr. Obrigado" - escreveu. Tagliaferro concordou, destacando que a rede era usada por pessoas que buscavam se “esconder” por não sofrerem punições da plataforma.
Diálogo entre Airton Vieira e Eduardo Tagliaferro | Foto: Reprodução/Revista Oeste |
Diálogo entre Airton Vieira e Eduardo Tagliaferro | Foto: Reprodução/Revista Oeste |
Tagliaferro diz que muita gente se esconde na rede social em questão devido à impunidade: "Nele tem muita gente se escondendo porque nao tem impunidade" [sic].
Diálogo entre Airton Vieira e Eduardo Tagliaferro | Foto: Reprodução/Revista Oeste |
Na mesma data, Tagliaferro enviou um relatório que serviria de base para o pedido de bloqueio da Gettr. "Veja se preciso fazer alguma alteração, por favor" - disse. Vieira aprovou o texto, e, em seguida, perguntou se a empresa tinha escritório no Brasil, terminando a mensagem com risos, demonstrando que estava buscando subterfúgios para embasar o pedido de bloqueio. A resposta foi negativa. A sugestão, então, foi aplicar o mesmo modelo usado meses antes contra o Telegram, que havia sido suspenso por decisão de Moraes em março de 2022.
Segundo as mensagens, o próprio ministro já havia dado aval para a medida: "Ontem à noite, ele [Moraes] falou que bloqueia mesmo kkk" - relatou Tagliaferro.
Diálogo entre Airton Vieira e Eduardo Tagliaferro | Foto: Reprodução/Revista Oeste |
Diálogo entre Airton Vieira e Eduardo Tagliaferro | Foto: Reprodução/Revista Oeste |